Hoje nenhum terreiro está servindo feijoada e bolo de fubá para seus vovôs, mas eles nunca estiveram tão próximos de nós. Nosso país passa por uma época de tristeza, perda de entes queridos, destruição de sonhos, adiamento de planos… Com certeza sentimos falta de pedir a bênção a eles, sentir o cheiro da alfazema e ganhar um passe com um raminho de arruda, mas o principal podemos manter mesmo em casa: nossa fé.
Há quem goste de colocar uma canequinha de café no altar em casa, há quem acenda uma vela, há quem apenas faça uma prece. Seja como for, nossos vovôs estão olhando por nós.
Quem poderia entender melhor que eles o sofrimento e a dor? Quem teria mais sabedoria, quem seria um exemplo maior de fé, força, determinação? Nossos velhinhos são um exemplo de doçura e humildade, mas em vida passaram por experiências terríveis. Na condição de escravos eles foram arrancados de seus países de origem, separados de suas famílias, tiveram sua dignidade tirada, passaram por castigos físicos injustos e muito mais provações que possivelmente nunca sentiremos na pele. Ainda assim, esses vovôs sobreviveram até a idade avançada, contra todas as expectativas. Souberam usar essa situação como um meio de aprendizado e evolução, transformaram a própria dor em sabedoria. Usam até hoje seus conhecimentos de cura e aconselhamentos até hoje, trabalhando por amor. Se olharmos o exemplo deles, talvez possamos também transformar essa situação terrível pela qual passamos em uma oportunidade de aprender. Mais do que nunca o mundo precisa de empatia, caridade, humildade, resignação. Precisamos nos tornar pessoas melhores. Para quem nem estava preocupado em aprimorar seu caráter, talvez seja a hora de começar a se reinventar. Se você até aqui esteve ocupado sentindo inveja, guardando rancor, fofocando ou passando a perna nos outros, chegou o tempo de se importar, perdoar, pedir desculpas, esquecer o orgulho e ajudar o próximo.
Muito se engana, aliás, quem pensa que por trás daquele senhorzinho curvado ou daquela velhinha de pano na cabeça está um espírito de pouca cultura; vários pretos-velhos já tiveram outras vidas como magos poderosos, reis e rainhas, médicos, monges. O conhecimento acumulado ao longo de tantas existências, a luz desses guias e sua experiência fazem deles verdadeiros presentes para seus filhos encarnados. Sabemos que cada um tem ao menos um vovô e uma vovó que cuidam de nós; com certeza o que ele mais querem é nos ver bem, na medida do possível. Se você estiver em um momento de desespero, não tenha receio de pedir ajuda; é no Cruzeiro das Almas que acendemos uma vela quando precisamos de cura, de consolo. Não precisa fazer uma promessa, você tem todo o direito de pedir forças para passar por essa provação. Mas se estiver seguro em sua casa, saudável, cercado pela sua família, procure uma das várias ações de caridade que têm aparecido à nossa volta. Há todo tipo de doações em dinheiro, alimentos ou outros recursos esperando para serem feitas por quem tiver essas condições. E se não for esse o seu caso, se os recursos materiais estiverem contados para a sobrevivência de sua família, ainda tem algo que você sempre poderá fazer e não custa nada: ore por quem precisa, do fundo do coração. Ore pelos doentes, pelos desencarnados, pelos que perderam seus entes queridos, pelos profissionais dos hospitais, pelos nossos governantes… É também o momento de agradecer, de aprender a dar valor à sua casa, seu emprego, sua família, ao conforto material que te cerca e à saúde que você tem.
É nos inspirando no pretos-velhos que, nesse treze de maio tão diferente, sem terreiro e sem festa, precisamos manter a fé e a esperança.