Você já ouviu falar nos elementais?
Pode parecer coisa de histórias infantis, mas as lendas sobre criaturas mágicas que se escondem nas florestas são mais reais que você imagina. E elas estão muito mais perto que pensamos.
Histórias presentes em diversas mitologias mundo afora descrevem espíritos com cara de criança que protegem a floresta, pessoas em miniatura escondidas em cavernas, mulheres com rabo de peixe, criaturas que dançam dentro das chamas, ninfas que vivem dentro das árvores e fadas voando entre a copa da árvores. Povos muito diferentes chegaram, várias vezes, a descrições muito parecidas dessas criaturas. Há histórias mencionando sereias com diferentes “personalidades” mundo afora, desde a Rússia até a Iara Mãe D´água, lenda dos nossos povos indígenas. Lobisomens fazem parte do nosso folclore brasileiro, mas são frequentemente mencionados Europa afora e até em lendas dos nativos norte-americanos.
Como culturas tão diferentes criaram histórias cheias de criaturas tão semelhantes? A resposta é simples: porque lendas são formadas a partir de histórias contadas repetidamente. Ganham novas versões e detalhes toda vez que alguém as passa para a frente, mas todas começaram em algum lugar. É perfeitamente possível que na antiguidade, em várias partes do mundo, tenham vivido pessoas dotadas da mediunidade de clarividência. Em algum ponto da vida, vislumbraram algo muito fora do comum e passaram o relato adiante. Outras pessoas na mesma condição, ainda que gerações depois, podem ter a mesma experiência e assim tomam forma as lendas baseadas nos elementais.
E o que são elementais, afinal? São espíritos em evolução, assim como nós. Depois que passarmos pelos reinos mineral, vegetal e animal, há ainda uma distância muito grande para que possamos seguir nossa caminhada reencarnando como um ser humano pela primeira vez. É nesse intervalo que se encontram os elementais: já são mais racionais que os animais mas ainda agem por instinto como eles. Ainda não têm o mesmo grau de consciência que nós, mas estão muito mais intimamente ligados à natureza. Não possuem corpo físico e a aparência deles é descrita como muito variável; seu tamanho pode ser desde muito pequeno, proporcional a uma pequena planta, à altura de um ser humano. Geralmente eles parecem seres humanos, mas com algumas características animais como chifres, pelos, garras ou caudas. Dependendo de sua variedade, podem também ter membros parecidos com galhos de árvores ou são semitransparentes como a água.
E o que eles fazem? Cada riacho, nascente, árvore, gruta, animal silvestre ou doméstico tem um elemental responsável por acompanhar esse ser. Se andamos em um jardim, cachoeira, bosque ou qualquer local arborizado, passamos por um exército deles. Se você tem um quintal cheio de plantinhas, saiba que existem “hóspedes” invisíveis por ali! A própria expressão “elemental” vem dos quatro elementos da natureza e há elementais associados a cada um deles, nomeados de acordo com as nossas lendas.
As Salamandras são elementais do fogo. Ondinas são as que habitam a água, podendo viver no fundo do oceano, em rios, nascentes etc. Silfos são os que vivem nos ares, geralmente possuem asas e movem-se na direção do vento. Os que vivem na terra, incluindo cavernas, o subsolo, e o interior das montanhas, são chamados de duendes ou gnomos. Não são os homenzinhos barbudos de gorro que aparecem nos contos de fadas, mas são sim bem pequeninos.
Mas afinal, por que estamos falando dessas criaturas em um blog sobre a Umbanda?
Nossa religião é baseada no contato com a natureza. Nossos orixás estão sempre associados a um dos quatro elementos e a tudo que eles representam. Podemos considerar então que, de certa forma, cada elemental é um falangeiro trabalhando para um orixá, assim como todos os espíritos que trabalham para o bem.
Ao colher ervas para fazer um banho, pedimos permissão a Ossaim e agradecemos, mas quem cuidou daquela planta até o momento em que você pudesse arrancar suas folhas foi um elemental responsável por ela. Se você acredita que Iansã e Tempo lançam suas tempestades para purificar a energia densa de um lugar, saiba que a mando deles os silfos empurram as nuvens carregadas lá nas alturas. Toda vez que um exu acende fogo numa panela ou estoura pólvora, ali por perto está um elemental do fogo ajudando a queimar nas chamas as demandas e a negatividade. Se determinado animal foi escolhido para o abate, podemos ter a certeza de que o elemental que o acompanhava autorizou que seu desencarne tivesse esse propósito sagrado.
Seja como for, estamos cercados dessas criaturas e devemos tanto respeito a elas quanto a qualquer espírito. Você pode agradá-los ou agradecer, se quiser, deixando um pratinho com frutas doces (uvas, maçãs, ameixas, morangos) na sua janela, varanda ou jardim e fazendo uma prece simples de agradecimento aos elementais que estiverem por perto. Eu mesma já fiz isso algumas vezes, ao viajar para lugares mais arborizados. Três uvas verdes permanecerem por uma semana na janela que dava para um bosque, sem ser tocadas por formigas, sem apodrecer. Acabaram secando como uvas passas. Há quem compre pequenas estátuas de gnomos ou fadinhas de biscuit sentados sobre cristais para representá-los. São facilmente encontradas em lojas esotéricas ou de artigos religiosos.
Uma curiosidade: há correntes que consideram alguns erês “de nação” e outras entidades específicas como elementais. Exemplos: Um erê de Yemanjá que se descreve como uma sereiazinha com rabo de peixe, um caboclo de Xangô que diz morar dentro da pedreira ou até um exu mirim que possa ser um elemental do fogo. Essa corrente diz que, para esses elementais, incorporar e trabalhar nos terreiros seria uma forma de evolução que os permite chegar mais rápido ao estágio em que possam encarnar como um ser humano pela primeira vez. Há fontes sobre esse estudo, mas essa teoria não é amplamente seguida e aceita dentro da Umbanda. Cada terreiro segue seus próprios princípios para a caridade. Busque ler sobre se tiver interesse, mas consulte sempre seu sacerdote.
Fonte e leitura recomendada: https://portaldaapometria.wordpress.com/2017/10/25/seres-elementais/